31/10 16:31

Mais de 10 milhões trabalham na agricultura familiar, aponta Censo Agro


Pela 1ª vez, o IBGE investigou a cor ou raça dos produtores rurais: 52,8% deles eram pretos ou pardos e 45,4% eram brancos – distribuição semelhante à da população do País. Foto: Divulgação

A agricultura familiar emprega mais de dez milhões de trabalhadores e trabalhadoras rurais, o que representa 67% do total de pessoas ocupadas na agropecuária, até o dia 30 de setembro de 2018. Esse segmento do agronegócio nacional também foi responsável por 23% do valor total da produção dos estabelecimentos agropecuários.

É o que revelam os dados consolidados do Censo Agropecuário de 2017, divulgados no dia 25 de outubro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento foi feito em mais de cinco milhões de estabelecimentos agropecuários de todo o País.

De acordo com a Lei nº 11.326, para ser classificado como agricultura familiar, o estabelecimento deve ser de pequeno porte (até 4 módulos fiscais); ter metade da força de trabalho familiar; atividade agrícola no estabelecimento deve compor, no mínimo, metade da renda familiar; e ter gestão estritamente familiar.

“Dez anos depois, a configuração dos produtores mudou. Aumentou muito o número de estabelecimentos em que o produtor está buscando trabalho fora, diminuiu a mão de obra da família e está diminuindo a média de pessoas ocupadas. O estabelecimento acaba não podendo ser classificado porque não atende aos critérios da lei”, comenta Antônio Carlos Florido, gerente técnico do Censo Agropecuário.

Considerando-se os alimentos que vão para a mesa dos brasileiros, os estabelecimentos de agricultura familiar têm participação significativa. Nas culturas permanentes, o segmento responde por 48% do valor da produção de café e banana; nas culturas temporárias, são responsáveis por 80% do valor de produção da mandioca, 69% do abacaxi e 42% da produção do feijão.

Estabelecimentos agropecuários


Edição de 2017 ainda aponta que 77% dos estabelecimentos agropecuários foram classificados como agricultura familiar. Imagem: Divulgação IBGE

Edição de 2017 ainda aponta que 77% dos estabelecimentos agropecuários foram classificados como agricultura familiar. Imagem: Divulgação IBGE

Dentre outras, a pesquisa destaca informações sobre agricultura familiar, mecanização, pessoas ocupadas e acesso à internet. O primeiro Censo Agropecuário foi publicado em 2006.

A edição de 2017 ainda aponta que 77% dos estabelecimentos agropecuários foram classificados como agricultura familiar que, em extensão de área, ocupava 80,9 milhões de hectares, no período da pesquisa, somando 23% da área total dos estabelecimentos agropecuários brasileiros.

No Censo Agro 2017, pela primeira vez, o IBGE investigou a cor ou raça dos produtores rurais: 52,8% deles eram pretos ou pardos e 45,4% eram brancos, uma distribuição semelhante à da população do País, segundo números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua).

Envelhecimento no campo


Envelhecimento dos chefes das famílias no campo, ao mesmo tempo em que os filhos optam por outras atividades fora do domicílio agrícola, é fator para queda. Foto: Divulgação

Envelhecimento dos chefes das famílias no campo, ao mesmo tempo em que os filhos optam por outras atividades fora do domicílio agrícola, é fator para queda. Foto: Divulgação

Conforme o Censo, 15,1 milhões de pessoas estavam ocupadas em estabelecimentos agropecuários em 2017, uma redução de 1,4 milhão em comparação ao levantamento de 2006. Na agricultura familiar, a população ocupada caiu para 2,166 milhões.

Outro fator que explica essa queda é o envelhecimento dos chefes das famílias, ao mesmo tempo em que os filhos optam por outras atividades fora do domicílio agrícola, conforme explica Luiz Fernando Rodrigues, gerente substituto do Censo Agro 2017.

“As pessoas estão ficando idosas, o que reduz o número de ocupados. Além disso, há o aumento da mecanização e da contratação de serviços”, acrescenta Rodrigues.

O percentual de produtores com mais de 65 anos aumentou de 18% para 23% nos últimos 11 anos, enquanto o de produtores entre 25 e 35 anos caiu de 14% para 10%.

“O produtor está envelhecendo, a média de pessoas está diminuindo. A pessoa entra na fase de ganhar dinheiro para se manter e acaba buscando outra atividade. Então está tendo um envelhecimento sem uma sucessão, né? Não está havendo troca”, conclui Florido.

Crescimento em outros lugares

Nos demais estabelecimentos, fora da agricultura familiar, a oferta de trabalho cresceu e a população ocupada subiu mais 702,9 mil no período analisado (2006 a 2017).

De 2006 para 2017, cresceu em 143% a contratação de mão de obra para os estabelecimentos agropecuários com intermediação de terceiros (empreiteiros, cooperativas e empresas), passando de 251.652 para 611.624 no período.

Mecanização


O número de estabelecimentos com tratores vem aumentando desde 1975, conforme aponta o Censo Agropecúario. Foto: Licia Rubinstein/Divulgação Agência IBGE Notícias

O número de estabelecimentos com tratores vem aumentando desde 1975, conforme aponta o Censo Agropecúario. Foto: Licia Rubinstein/Divulgação Agência IBGE Notícias

Outro fator apontado pelo IBGE como responsável pela queda da mão de obra no campo foi a mecanização. De acordo com o Censo, essa atividade alterou o perfil do trabalho no meio rural e influenciou a diminuição de trabalho no setor, nos últimos 11 anos.

O levantamento mostra que o número de estabelecimentos com tratores aumentou 50% em relação ao último Censo, realizado em 2006. Durante esse mesmo período, o setor agropecuário perdeu aproximadamente 1,5 milhão de trabalhadores.

Além de tratores, aumentou também o número de estabelecimentos com outras máquinas, como semeadeiras ou plantadeiras, colheitadeiras, adubadeiras ou distribuidoras de calcário, e também meios de transporte como caminhões, motocicletas e aviões. É possível verificar, , conforme o IBGE, a tendência do aumento de uso de máquinas nos estabelecimentos agrícolas na série histórica, em que a utilização dos tratores apresenta crescimento desde o Censo Agropecuário de 1975.

Gerente técnico do Censo, Antonio Carlos Florido diz que o processo de mecanização é algo crescente e contínuo: “Quanto mais automação, menos gente na produção. Isso tem acontecido em todos os setores da economia, não é algo restrito ao setor agropecuário”.

Cenário mudou

De acordo com o IBGE, o trabalho braçal vem sendo substituído pelas máquinas agrícolas, cenário que, de acordo com Florido, obriga os trabalhadores do campo a buscar qualificação para operar a maquinaria.

“Até uns três anos atrás, a colheita de cana em São Paulo era manual. O pessoal colocava fogo no canavial e depois vinha um monte de gente cortando cana. Depois veio uma lei ambiental que proibiu a queima da cana, o que impossibilitou o corte na mão. Então tivemos a substituição dessa mão de obra por uma máquina de colher cana”, explica Florido.

Ele explica que uma máquina como essa substitui, em média, cem pessoas. “Quem não se qualifica tem que fazer trabalho braçal e o trabalho braçal está terminando. Se você tem uma máquina que faz o serviço de 100 pessoas, para aquela pessoa que sabe operar essa máquina tem emprego”, ressalta.

Inovação no campo


Crescimento do uso da internet no campo foi de 1900%, segundo o IBGE. Foto: Divulgação

Crescimento do uso da internet no campo foi de 1900%, segundo o IBGE. Foto: Divulgação

Em 2017, 502.379 estabelecimentos informaram que usavam algum tipo de irrigação, um aumento de mais de 50%. O total da área irrigada cresceu 47,6% e somou 6,69 milhões de hectares.

Em relação ao acesso à internet no campo, 1.430.156 produtores declararam ter acesso (659 mil banda larga e 909 mil por internet móvel), um incremento de 1900%.

Em 2006, apenas 75 mil estabelecimentos tinham acesso. O acesso a telefone passou de 1,2 milhão para 3,1 milhões. Confira a íntegra do Censo Agro 2017.

Fontes: IBGE e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento