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As possibilidades para o Brasil na China

Conferência Anual discutiu as possibilidades de aumentar o comércio entre os dois países


Imagem créditos: Arquivo

A China é a segunda economia mundial somente atrás dos Estados Unidos. O crescimento não anda tão acelerado, mas está longe de parar. Os dados do Escritório Nacional de Estatísticas revelam um crescimento de 6,2% no segundo semestre do ano. A cifra é a mais baixa já registrada desde 1992. Em termos anuais, considerando todo o primeiro trimestre deste ano, o PIB chinês cresceu 6,3% e a China segue na meta de crescer entre 6% e 6,5% ao ano e dobrar de tamanho em 2020 em relação a uma década atrás.

Esses números interessam muito ao Brasil por ser um grande produtor de alimentos. Segundo estimativa da Conab a safra de grãos 18/19, por exemplo, deve fechar em números recordes de 242,1 milhões de toneladas. Já a China é um grande mercado consumidor diante dos seus 1,386 bilhão de habitantes. 

A relação comercial bilateral é a mais importante para o Brasil há uma década, mas ainda limitada a três produtos: soja, minério de ferro e petróleo. Autoridades dos setores público e privado estiveram reunidas na Conferência Anual Brasil-China, em São Paulo, para discutir temas estruturais para aperfeiçoar o comércio e investimento entre os países. O evento teve o lançamento de um estudo sobre os investimentos chineses no Brasil em 2018, feito pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).  O levantamento mostra que entre 2007 e 2018 o volume investido pelos chineses no Brasil foi de US$ 60 bilhões, uma queda de 66% no ano passado ficando na casa dos US$ 3 bilhões, mesmo com recorde de 30 projetos confirmados. Entre os motivos para esta queda estão fatores como a troca de governo no Brasil com eleições conturbadas, privatizações, leilões e concessões aliados a instabilidade econômica. 

“A China reconhece nosso valor agropecuário”

Mesmo diante deste cenário o agronegócio, setor estratégicos nas relações sino-brasileiras, vislumbra boas possibilidades. Recentemente a China habilitou 24 laticínios que devem exportar produtos lácteos na casa de US$ 4,5 milhões. Outra boa notícia chega para o setor de carnes. Com o avanço da Peste Suína Africana (PSA) pelo continente asiático a demanda por proteína é maior. Nesta segunda-feira (9) 25 novos frigoríficos foram habilitados para exportar carne. O número de plantas habilitadas passa de 64 para 89. Dos novos estabelecimentos habilitados, 17 são produtores de carne bovina, seis de frango, um de suíno e um de asinino. As empresas já podem exportar imediatamente. Neste setor o Mapa enfrenta dificuldades para aprovar novas plantas já que a China exige um padrão de sanidade animal alto.

Mesmo o Brasil contando com esse requisito, a documentação de comprovação ainda é burocrática conforme destaca o embaixador Orlando Leite Ribeiro, Secretário de Comércio e Relações Internacionais do Mapa. “Mandamos 34 documentações, foram aprovadas 25. É um grande passo, mas o que nos barra é que a inspeção é feita por videoconferência. Eles confiam em nossa qualidade, mas a documentação por vezes perde quando traduzida. Hoje nossa principal negociação com a China é ampliar o volume de proteína animal”, ressalta. 

O evento teve a palestra de abertura feita pelo vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, que ressaltou o potencial do agronegócio neste cenário, impulsionado pelas tecnologias. “A China reconhece nosso valor agropecuário. Avançamos para exportação de novos produtos incluindo temas como biotecnologia e agricultura digital. O agro é fruto do desenvolvimento científico, modernas técnicas de plantio direto e irrigação, agricultura de precisão, monitoramento e gestão qualificada de propriedades”, defendeu.

Um momento único

É assim que as autoridades presentes definiram as possibilidades de investimentos China-Brasil: único. O cenário foi discutido em todas as frentes, incluindo os problemas de logística e infraestrutura, setores que interessam à China. Foram observadas também questões envolvendo investimentos em ferrovias, portos e aeroportos e investimentos em gás e novas fontes de energia, como a eólica. 

“Estamos diante de um momento único de investimentos no Brasil. Somos importantes para a China e a China é importante para nossa economia. Devemos fomentar essa relação bilateral”. Luiz Felipe Trevisan – Diretor de Investimentos do Itaú e Diretor do CEBC

“Buscar novas oportunidades para o Brasil em uma parceria estratégica com a China. Este é o nosso desafio: delinear isso de forma que seja proveitoso para ambas as nações”. Embaixador Luiz Augusto de Castro Neves – Presidente do CEBC

“Infraestrutura, energia, alimentos – uma relação entre dois povos para criar, conectar e colaborar. Façamos isso juntos”. André Clark – Presidente e CEO da Siemens no Brasil e Diretor do CEBC

“Perante as profundas transformações econômicas internacionais temos que fortalecer as relações Brasil-China, benéfica para os dois países. Há mercado para expandir”. Yang Wanming – Embaixador da China no Brasil

“O Brasil é um grande produtor. A China grande consumidor. Temos mercado aberto em soja, algodão e celulose mas carne ainda é difícil. Ainda há protecionismo”. Marcos Jank – Coordenador do Centro de Agronegócio Global do Insper

“Estamos fazendo nossa lição de casa não apenas em termos de simplificação tributária, melhoria do ambiente de negócios, mas também com novos acordos comerciais que vão permitir ao Brasil o acesso as melhores tecnologias do mundo. Esse casamento entre oportunidades externas e uma melhoria interna vai acabar resultando não apenas na expansão horizontal que o Brasil oferece a China, mas também na sua maior agregação de valor”. Marcos Troyjo – Secretário Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia. 

Fonte: Agrolink